segunda-feira, 30 de agosto de 2010

"O único motivo que ainda te escrevo, é justamente essa angústia de ter sempre algo a dizer, e por diversas vezes ter que ficar calada. Não por opção, e sim por obrigação. Creio que a monotonia tenha sido tamanha, a ponto de desmoronar tudo que construímos. Essa foi a verdade ou talvez só mais um eufemismo para algum defeito meu. Quero dizer que, estou em busca de uma aventura e talvez eu não tenha dado o tempo necessário pra você arrumar suas malas e se juntas a mim.
Ah, eram tão mágicos aqueles tempos. Os nossos tempos. Era apenas aquilo, tua vida misturada a minha, tão natural, tão intenso. E você me olhava com os olhos atentos, fascinados. Eu, tão opaca.. Mas tudo vai passar meu caro, e só restará as lembranças boas, aquelas que lembraremos daqui a algum tempo e iremos rir.. Lembraremos como era fascinante o eu e o você, ter tornado um nós tão inexplicavelmente único.. E quando passar, vamos entender que todo amor excessivo requer um tempo de solidão. Um tempo pra crescer e aprender a deixar os receios de lado da maneira mais sutil possível.
Pois é, a triste verdade, é que as coisas foram se empoeirando, as luzes foram se ofuscando, e perdendo a luminosidade que tinha quando a acendemos, as cortinas foram se fechando antes mesmo de acabar o espetáculo.. E o que virá depois desse ciclo vicioso? Sobretudo, a necessidade.
Agora eu deixo o vento levar as magoas, as palavras perdidas, as desculpas não atendidas, os valores não dados, os apelos de paz não atendidos.. Deixo o vento levar junto com ele, toda a culpa. Minha. Sua. Nossa culpa, e sopro pra eles irem longe da gente. Só não deixo que ele leve as memórias, porque fora a coisa mais fascinante que me resta. Portanto, depois de todo o processo, eu me levantei, me recompus, limpei o rosto, afastei a necessidade e desde aí tento seguir em frente."
*

"Você está me abandonando e eu nada posso fazer para impedir. Você é meu único laço, ponte entre o aqui de dentro e o lá de fora. Te vejo perdendo-se todos os dias entre essas coisas vivas onde não estou. Tenho medo de, dia após dia, cada vez mais não estar no que você vê. E tanto tempo terá passado, depois, que tudo se tornará cotidiano e a minha ausência não terá nenhuma importância. Serei apenas memória, alívio, enquanto agora sou uma planta carnívora exigindo a cada dia uma gota de sangue para manter-se viva. (...) Mas um dia será demasiado esforço, excessiva dor, e você esquecerá como se esquece um compromisso sem muita importância. Uma fruta mordida apodrecendo em silêncio no quarto."
*


"estou precisada de emoções. é com muita sinceridade que lhe digo: continuo insatisfeita e catastrófica, boy. não mudei muita coisa, as mesmas neuroses de sempre me perseguem. os mesmos pensamentos e a aquela única destreza: estou me esforçando para parecer intangível. às vezes eu fico oca, mas é com muito cuidado que insisto no contraponto, no caso, amar. acima de todas as coisas. amar o outro na extensão do meu próprio corpo, até onde os meus dedos conseguirem tocar e a minha língua conseguir sentir o gosto. é assim mesmo que se diz? meu deus, como a gente se trai com essas idéias. é tudo tão apaixonado que eu nem sei se sei ou se acredito. e ao mesmo tempo é tudo tão down. a gente não se doa, boy, a gente mal se vê nos olhos, na pupila dilatada do outro. apenas acenamos afirmativamente com outros propósitos."

sinto falta de cuidados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário