sábado, 3 de abril de 2010
Pratique o desapego
Oi, eu gosto de você. Não do jeito vulgar da coisa, eu gosto de você com o sentido mais sério que essa frase pode trazer. Gosto do jeito, do cheiro, das gírias, da mania. Mas dessa vez eu me reconheço aqui dentro. Depois de tanto tempo, sou de novo eu. É engraçado como a gente vai vivendo as coisas mas chega uma hora que você para pra relembrar e tudo aquilo parece que aconteceu em uma outra vida, que não é essa. E não faria diferença se tivesse sido a última encarnação, onde eu pudia ser uma mulher dessas que queimavam sutiã, assim como pudia ter sido uma doméstica dedicada e você simplesmente chegava e mudava os planos. Mas também pode ter acontecido numa vida mais antiga. Pode ser que a gente tenha fugido juntos porque a sociedade era estamental, eu mocinha rica, você menino pobre ou vice-e-versa. Mas ainda é essa vida. Semelhante a um ônibus. Você entra, flerta com algum cara que você achou bonito, mas o seu ponto chega rápido demais e você continua sua vida, desce do ônibus sabendo que nunca mais vai ver o tal cara. Descer é muito fácil. E se você resolver ficar?! Como nas comédias românticas, e se você resolver ficar, meu Deus?! Se você resolver sentar do lado dele, ele puxar assunto, reclamar do calor fora do normal que anda fazendo nessa cidade, reclamar do trânsito.. E ai, meu Deus?? E se ele resolver contar que a mãe trabalha perto da Marginal Tietê, pra que diabos você vai querer saber isso? Daqui a pouco você já vai descer mesmo... Mas e se ele resolver te prender um pouco mais e pedir seu telefone? Será que você ainda vai dar aquela risadinha de deboche de mulher que não bota fé em homem nenhum e já nem espera nada de um dia seguinte? E se ele segurar sua mão, te pedir pra esperar?! E se a partir daquele dia vocês resolverem pegar sempre o mesmo ônibus, no mesmo horário?! E se vocês se apaixonarem?! Vai ficando mais difícil descer do bendito ônibus... E se lota e você não consegue descer a tempo no seu ponto, você já nem se importa mais. Mas a vida é como o ônibus. Descer é inevitável. E quando você descer, pra não voltar mais, vai doer. E quando eu digo que vai doer, não é dorzinha cheia de lágrimas de crocodilo. Vai doer horrores. Deixar as coisas pra trás dói. Por isso que quando nascemos, esquecemos tudo o que passamos. Pra não lembrar e a partir de então não doer mais. Por isso que quando a gente vira adolescente só nos lembramos das coisas mais marcantes da infância.. Eu, por exemplo, me lembro direitinho de quando colei chiclete no cabelo de uma menina insuportável mas puxo da memória com dificuldade todas as peças de teatro que assisti.. Até mesmo A Pequena Sereia que eu sabia de cabeça todas as falas.. Até dele eu me esqueci. É claro, muita coisa boa se perde nesse esquecimento. Ser adulto é um mérito. Significa que você já pode simplesmente deixar as coisas pra trás. Sem se machucar mais. Você já pode entender que um relacionamento foi maravilhoso enquanto durou mas agora vocês se olham e procuram em vão todo o desejo que sentiam um pelo outro. Hora de deixar pra trás, abrir mão pra que separados possam ser felizes de novo. Muito fácil descer do ônibus e deixar pra trás um desconhecido. Outros quinhentos é descer e ficar vendo partir um ônibus com um alguém a quem você conhece tão bem dentro. Alguém que dividiu escova de dentes, da cama, dos gostos, das brigas. Estar junto, namoro ou casamento é mistura de amar e querer. Não dá pra fazer funcionar se não tiver os dois, em simbiose! Praticar o desapego pode parecer coisa de adolescente que vive socado em baladas e não quer saber de se comprometer com ninguém. Mas praticar o desapego pode ser uma coisa muito maior. Pode ser dar a nós mesmos outra chance de ser feliz. E essa chance não vem só uma, duas vezes.. Ela vem quantas vezes você quiser.
"Memória da pele"
Abril anda fazendo um calor danado.. Penso comigo o quão irônico as coisas podem ser. Hoje mesmo já pedi pra Deus umas catorze vezes você aqui comigo. Puta injusto colocar Deus nessas coisas. Só que não posso mais te ligar. Última madrugada só atravessei sóbria porque tive a coragem de discar os 8 números que eu sei tão bem de cór. Mas descobri que a única coisa que me resta é te escrever.. E escrever assim, sem compromisso, sem forma de carta, sem a menor pretensão de que seus olhos cheguem a ler alguma frase. Como é mesmo que você me disse? "Escrever deixa tudo bonito mas demonstra tanta falta de controle.." Quando a gente escreve a gente deixa um pouco do que a gente é tão exposto.. Deus viu. Deus vê tudo o tempo todo. Sou ciumenta, possessiva, passional, intensa. E a única coisa que você me pede é pra ser menos. Dorme, pequena, dorme.. Acalma esse pranto, se aguenta. Lembra do cheiro, da saliva, do suor nas mãos a tanto entrelaçadas. Mas se aguenta. Penso coisas assim o tempo todo, estou ficando louca com essa história de auto consolo. Você tenta se proteger, eu te digo que não sei quanto tempo aguento e você segue confiante porque você sabe que eu já esperei três anos, dois meses. Em um momento de maior ousadia diria até que passei minha vida toda te esperando. To guardando. Essa minha facilidade em manter um sentimento por tanto tempo só pensando em quão grande e bonito ele pode ficar. Minha merda é essa. Ser mais sentimento do que razão. Não ter meio termo. Querer te guardar num potinho. Sou intensa e pago o preço. Mas não vou negar nada disso. Ainda se fossem defeitos.. Mas nem isso. Ou será que ser demais é um defeito? Então que venha o tempo. E que ele passe rápido, como se eu estivesse adormecida. E que Deus coloque alguma coisa dentro dessa sua cabecinha teimosa. Mentira, não precisa colocar nada. Abrir seus olhos já é suficiente. Enquanto isso eu fico aqui, dando um jeito nessa saudade, tentando diminuir o buraco que ficou aqui dentro para que eu mesma não acabe caindo nele.
O último.
"Eu me descubro ainda mais feliz a cada pedaço seu e de tudo o que é seu. Eu amo tanto o seu banheiro com as combinações em verde e a chuva fina do chuveiro, que chorei essa manhã enquanto você tomava taffman-e e ouvia música eletrônica.
Às vezes você é tão bobo, e me faz sentir tão boba, que eu tenho pena de como o mundo era bobo antes da gente se conhecer.
Eu queria assinar um contrato com Deus: se eu nunca mais olhar para homem nenhum no mundo, será que ele deixa você ficar comigo pra sempre?
Eu descobri que tentar não ser ingênua é a nossa maior ingenuidade, eu descobri que ser inteira não me dá medo porque ser inteira já é ser muito corajosa, eu descobri que vale a pena ficar três horas te olhando sentada num sofá mesmo que o dia esteja explodindo lá fora.
E quando já não sei mais o que sentir por você, eu respiro fundo perto da sua nuca, e começo a querer coisas que eu nem sabia que existiam.
Quando a gente foi ver o pôr-do-sol na Praça pôr-do-sol, eu, você e a Lolita, a minha cachorrinha mala, e a gente ficou abraçado, e a gente se achou brega demais, e a gente morreu de rir, eu senti um daqueles segundos de eternidade que tanto assustam o nosso coração acostumado com a fugacidade segura dos sentimentos superficiais.
Eu olhei para você com aquela sua jaqueta que te deixa com tanta cara de homem e me senti tão ao lado de um homem, que eu tive vontade de ser a melhor mulher do mundo.
E eu tive vontade de fazer ginástica, ler, ouvir todas as músicas legais do mundo, aprender a cozinhar, arrumar seu quarto, escrever um livro, ser mãe.
E aí eu só olhei pra bem longe, muito além daquele Sol, e todo o meu passado se pôs junto com ele. E eu senti a alma clarear enquanto o dia escurecia.
Eu te engoli e você é tão grande pra mim que eu dedico cada segundo do meu dia em te digerir. E eu não tenho mais fome, e eu tenho que ter fome porque eu não quero você namorando uma magrela. E eu sonhei com você e acordei com você, e eu te olhei e falei que eu estava muito magrela, e você me mandou dormir mais, e me abraçou.
Eu preciso disfarçar que não paro mais de rir, mas aí olho pra você e você também está sempre rindo. Se isso não for o motivo para a gente nascer, já não entendo mais nada desse mundo.
E eu tento, ainda refém de algumas células rodriguianas que vez ou outra me invadem, tentar achar defeito na gente, tentar estragar tudo com alguma sujeira.
Mas você me deu preguiça da velha tática de fuga, você me fez dormir um cd inteiro na rede e quando eu acordei o mundo inteiro estava azul.
Engraçado como eu não sei dizer o que eu quero fazer porque nada me parece mais divertido do que simplesmente estar fazendo. Ainda que a gente não esteja fazendo nada.
Eu, que sempre quis desfilar com a minha alegria para provar ao mundo que eu era feliz, só quero me esconder de tudo ao seu lado.
Eu limpei minhas mensagens, eu deletei meus emails, eu matei meus recados, eu estrangulei minhas esperas, eu arregacei as minhas mangas e deixei morrer quem estava embaixo delas. Eu risquei de vez as opções do meu caderninho, eu espremi a água escura do meu coração e ele se inchou de ar limpo, como uma esponja. Uma esponja rosa porque você me transformou numa menina cor-de-rosa.
Você me transformou no eufemismo de mim mesma, me fez sentir a menina com uma flor daquele poema, suavizou meu soco, amoleceu minha marcha e transformou minha dureza em dança. Você quebrou minhas pernas, me fez comprar um vestido cheio de rendas e babados, tirou as pedras da minha mão.
Você diz que me quer com todas as minhas vírgulas, eu te quero como meu ponto final."
Às vezes você é tão bobo, e me faz sentir tão boba, que eu tenho pena de como o mundo era bobo antes da gente se conhecer.
Eu queria assinar um contrato com Deus: se eu nunca mais olhar para homem nenhum no mundo, será que ele deixa você ficar comigo pra sempre?
Eu descobri que tentar não ser ingênua é a nossa maior ingenuidade, eu descobri que ser inteira não me dá medo porque ser inteira já é ser muito corajosa, eu descobri que vale a pena ficar três horas te olhando sentada num sofá mesmo que o dia esteja explodindo lá fora.
E quando já não sei mais o que sentir por você, eu respiro fundo perto da sua nuca, e começo a querer coisas que eu nem sabia que existiam.
Quando a gente foi ver o pôr-do-sol na Praça pôr-do-sol, eu, você e a Lolita, a minha cachorrinha mala, e a gente ficou abraçado, e a gente se achou brega demais, e a gente morreu de rir, eu senti um daqueles segundos de eternidade que tanto assustam o nosso coração acostumado com a fugacidade segura dos sentimentos superficiais.
Eu olhei para você com aquela sua jaqueta que te deixa com tanta cara de homem e me senti tão ao lado de um homem, que eu tive vontade de ser a melhor mulher do mundo.
E eu tive vontade de fazer ginástica, ler, ouvir todas as músicas legais do mundo, aprender a cozinhar, arrumar seu quarto, escrever um livro, ser mãe.
E aí eu só olhei pra bem longe, muito além daquele Sol, e todo o meu passado se pôs junto com ele. E eu senti a alma clarear enquanto o dia escurecia.
Eu te engoli e você é tão grande pra mim que eu dedico cada segundo do meu dia em te digerir. E eu não tenho mais fome, e eu tenho que ter fome porque eu não quero você namorando uma magrela. E eu sonhei com você e acordei com você, e eu te olhei e falei que eu estava muito magrela, e você me mandou dormir mais, e me abraçou.
Eu preciso disfarçar que não paro mais de rir, mas aí olho pra você e você também está sempre rindo. Se isso não for o motivo para a gente nascer, já não entendo mais nada desse mundo.
E eu tento, ainda refém de algumas células rodriguianas que vez ou outra me invadem, tentar achar defeito na gente, tentar estragar tudo com alguma sujeira.
Mas você me deu preguiça da velha tática de fuga, você me fez dormir um cd inteiro na rede e quando eu acordei o mundo inteiro estava azul.
Engraçado como eu não sei dizer o que eu quero fazer porque nada me parece mais divertido do que simplesmente estar fazendo. Ainda que a gente não esteja fazendo nada.
Eu, que sempre quis desfilar com a minha alegria para provar ao mundo que eu era feliz, só quero me esconder de tudo ao seu lado.
Eu limpei minhas mensagens, eu deletei meus emails, eu matei meus recados, eu estrangulei minhas esperas, eu arregacei as minhas mangas e deixei morrer quem estava embaixo delas. Eu risquei de vez as opções do meu caderninho, eu espremi a água escura do meu coração e ele se inchou de ar limpo, como uma esponja. Uma esponja rosa porque você me transformou numa menina cor-de-rosa.
Você me transformou no eufemismo de mim mesma, me fez sentir a menina com uma flor daquele poema, suavizou meu soco, amoleceu minha marcha e transformou minha dureza em dança. Você quebrou minhas pernas, me fez comprar um vestido cheio de rendas e babados, tirou as pedras da minha mão.
Você diz que me quer com todas as minhas vírgulas, eu te quero como meu ponto final."
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