sábado, 20 de fevereiro de 2010

ReviraVolta

"Coração, como você está? Que bom que está bem.
Hoje tive um sonho estranho, você percebeu, coração? Te senti apertado. Mas por que isso? Já faz tanto tempo! Me explica esse tal de estado latente... Não agüento mais isso. Por que você faz isso comigo, coração? Por que só finge que esquece? Eu sei que foram muitos motivos que te fizeram guardar com carinho, mas por que só encobre de mentirinha? Te mando muitos caminhos para seguirmos juntos, mas por que insiste nesse? Não venha me dizer que não é verdade! É sempre assim, revira, volta.
Basta ver, pensar, conversar. Que tudo se mexe, tudo vem a tona. Eu não quero isso, coração. Quero paz. Caminhos simples, felicidade. Por que ainda queres o antigo? Passou, passou! Vou falar pra razão não te ferir mais, prometo. Mas por favor não faça ela! Andem em harmonia.
Eu sei que não foi culpa sua! Foi dele, que deu uma reviravolta e gerou uma revirada e uma volta aqui... mas veja bem, meu bem, não pode continuar desse jeito! Te peço atenção. Alerta ligado! Não quero ver você nem a razão sofrendo, ok? Então tá. Fizemos um acordo! E para com esse “revira-volta”. Que revire e não volte. Ou que volte se a reviravolta for verdadeira."

Cade você?

Acordo. Me olho no espelho e vejo que não acordei tão bem assim, não como eu queria acordar. Olho pra janela e entendo porque meu cabelo não acordou como planejado. A porcaria da chuva vai me atrapalhar o dia todo. Secador, base, blush e rímel não adiantam de nada. Me olho no espelho e vejo estampado na minha cara a infelicidad e a frustração. Me pergunto se o meu trabalho, minhas gratificações e minha realização não são importantes. Tenho medo. Medo de sempre ter o mero semblante tenso no rosto. Olho a um palmo ao meu nariz e não vejo nada além de coisas que não preencheram o vazio. O que eu mais temia, tá acontecendo.. o meu maior temor, tá se revelando diante de minhas preces ao acaso pra que nada acontecesse. Ou.. a Deus. A solidão tá começando a invadir a minha vida e tomar conta dela. Não consigo nem sequer fingir mais. Coisa que eu sabia e fazia com experiência. Me sinto angustiada, solene e nervosa. O arrependimento que existe por não fazer coisas, por não aproveitar oportunidades, por não viver a vida me corroe e me deixa cada dia mais frustrada, por saber que mais uma vez eu errei, falhei e fui fraca por não aprender a fazer aquilo que eu tinha vontade de fazer. Tentei seguir pelo caminho que outras pessoas achavam certo pra min, e o que tenho hoje? Porra nenhuma. Não tenho a merda que chamam de amor, não tenho. Sou fria, seca, amarga. Pra min? Pra min o amor é uma banalidade. Um clichê, talvez.. Eu só quero aprender a cultivar um sentimento puro. Não precisa ser necessáriamente o amor, porque o amor é sujo, é insano, é traíra.. Nos deixa na mão quando mais precisamos dele. Quero sentir, planejar, pensar, sonhar. Ter um futuro acompanhada! Mas nããããããão.. mais uma vez o amor insiste em se vingar de min por ter-lo banalizado. Ora! Ele queria que eu aguentasse sozinha, o sofrimento que ele me causava? Quando nos sentimos mal com algo, cortamos da nossa vida. Mas um motivo pelo qual eu sofro.. Cadê? Cadê você amor? Eu não te cortei, não arranquei suas raízes. Sei que você tá ai.. Eu deixei o meu orgulho pra te ter de volta, por menor que você seja. Por favor amor, volta pra min. Por mais pequeno que você esteja agora, preciso de você aqui.
Guardo você na parte mais profunda que tenho. Vez ou outra dou uma olhada para saber se está bem. Se precisa de ajuda, se me quer por perto. Tenho medo que um dia você me pareça feliz e alegre o suficiente para me mostrar que eu não significo mais nada. Tenho medo que um dia eu me pareça feliz e alegre o suficiente e isso queira dizer que você não significa.
Tenho medo desses nossos silêncios eternos que nunca querem dizer nada, mas acabam de um jeito meio cruel dizendo mais do que tudo. E desses nossos gritos que não querem dizer nada além de demonstrar o quanto nós temos tanto medo. E tenho saudade dos nossos calores juntos que tornavam-se vulcões. Tenho saudade do sorriso e tenho saudade das lágrimas. Tenho saudade de sentir qualquer coisa que envolve-se você por perto. E não suporto o saudade de sentir você tão longe.
Fico ansiosa esperando qualquer telefonema seu. Qualquer sinal de vida. Qualquer respiração do outro lado da linha. Às vezes me pego aceitando seus gritos e berros e xingamentos. Se isso quisesse dizer que você ainda se importava. Às vezes me pego querendo qualquer parte sua. Querendo você.
Corro para longe no anseio de correr para perto. Me desligo para não ter que ver de camarote como seria você sem mim, e te mostrar como eu sou sem você. Corro para não dizer que tudo o que eu mais quero é não mais querer você.
Aguardo calada o nosso passado vindo à tona. Aguardo calada nossa próxima briga. E a reconciliação que nunca veio. Aguardo calada que eu te supere e aguardo que você deixe de me superar. Que você se lembre.
Só queria me perder de você. Não gostar mais tanto da sua camisa surrada, da sua calça largada, do seu sorriso acalentador. Que eu pudesse deletar seus resquícios em mim. Só queria poder escolher não lembrar dos nossos momentos, rasgar nossas fotos. Só queria que eu tivesse você como meu passado de infância: que a gente sabe que aconteceu, mas não se lembra com detalhes.
É ridículo e infantil e grotesco, mas eu queria te perder. Te tirar de mim como se você nunca tivesse existido. E só de querer isso já dói. Porque escolher desistir é dar um ponto final nessa nossa história cheia de ponto-e-vírgulas. É acabar com algo que só teve início e meio e tardou e tardou. É ficar mediana entre nossos altos e baixos. É vomitar tudo o que ainda me apega a você. É esquecer. Especialmente esquecer.
Sua morte em mim é como a morte de alguém doente. Dói porque morreu, mas a notícia já vinha sendo dada há tempos. Nesse velório eu não vou de preto, mas vestida de liberdade. Livre de um amor que era só seu e não meu. Livre de uma dor que era só minha. Livre de alguém que foi meu fim e livre para ser o meu próprio começo.
Fica aqui a minha despedida. O meu partir. O meu pesar. Fica aqui a parte que gostava e amava e sofria. Fica meu abraço, meu carinho, meu amor antigo. Adeus à você e à sua memória. Sei que esse é o nosso the end e que não tem mais jeito, continuação nem nada. E isso dói pra caralho.
Mas, apesar de tudo, não me esquece não. Não deleta minhas fotos, não excluí nosso passado em você. Me deixa sozinha, não me faça lembrar, mas não me esquece não. Não esquece do meu abraço, do jeito que eu sempre sabia o que falar. Dos nossos segredos só nossos. Lembra de mim todo dia e se arrepende por ter me deixado partir. Mas se me ver na rua, finja que não me conhece. Ah, que tolice a minha: isso você já faz toda a vida.